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Por que ‘As Meninas’ de Lygia Fagundes Telles é Leitura Obrigatória? Uma Resenha

  • Foto do escritor: Adorama
    Adorama
  • 15 de set.
  • 3 min de leitura

Existem livros que são fotografias de seu tempo e, ao mesmo tempo, espelhos que refletem nossas inquietações mais profundas, não importa a época. "As Meninas", publicado por Lygia Fagundes Telles em 1973, é uma dessas obras. Mais do que um romance, é um documento sensível e brutal sobre a juventude, a repressão e os diferentes universos que podem coexistir sob o mesmo teto.

Em plena ditadura militar, nos opressivos "anos de chumbo", somos apresentados a um pensionato de freiras em São Paulo. É neste cenário que três jovens universitárias, com origens e sonhos completamente distintos, dividem suas vidas: Lia, Lorena e Ana Clara. Lygia constrói um romance polifônico, onde cada voz nos guia por um labirinto psicológico e social diferente, revelando as rachaduras de um Brasil amordaçado.

(Aqui você insere a primeira imagem gerada pela IA)


A Tensão em Três Atos: Lia, Lorena e Ana Clara


O grande trunfo de "As Meninas" é a construção de suas protagonistas. Elas não são apenas personagens; são teses vivas sobre os dilemas de sua geração.

Lia é a militante política, engajada na luta armada contra a ditadura. Corajosa e idealista, sua narrativa é marcada pela urgência, pelo medo da tortura e pela esperança de um futuro livre. Ela é a consciência crítica, a personificação da resistência. Lorena é a burguesa, rica e alienada. Seu mundo é um refúgio de luxo, drogas e reflexões existenciais. Mergulhada em sua "bolha", ela busca um sentido para a vida enquanto o país ao seu redor arde. Ela representa a alienação de uma elite que prefere não ver. Ana Clara: é a "normal", a garota do interior que sonha com o amor e a estabilidade. Marcada por traumas familiares e uma beleza estonteante, ela se afunda em um relacionamento abusivo e no vício, representando a fragilidade e a busca desesperada por afeto em um mundo cruel.

O que torna a dinâmica fascinante é como Lygia Fagundes Telles entrelaça esses três universos. Elas convivem, dialogam e se afetam, mesmo que suas realidades pareçam incomunicáveis.


Cena de um quarto de estudante nos anos 70, simbolizando a repressão no livro 'As Meninas', com panfletos políticos em uma escrivaninha sob a sombra de uma janela com grades.

A Narrativa como Espelho da Mente


A técnica narrativa de Lygia é uma aula de literatura. Utilizando o fluxo de consciência, ela nos joga diretamente para dentro da mente de cada uma das meninas. Os pensamentos, as memórias e as angústias se misturam, criando um retrato psicológico tão vívido que a leitura se torna uma experiência imersiva e, por vezes, claustrofóbica.

Essa escolha estilística não é gratuita. Em um período onde a livre expressão era censurada, a autora volta-se para o universo interior, mostrando que, mesmo quando a realidade externa é silenciada, a mente continua sendo um campo de batalha.


Um Retrato Fiel e Doloroso do Brasil



Mãos de uma jovem operando um mimeógrafo em um ambiente clandestino, representando a militância política da personagem Lia em 'As Meninas' de Lygia Fagundes Telles.

"As Meninas" é um livro corajoso. Lygia não hesita em tocar em feridas abertas, como a tortura, a perseguição política e a hipocrisia social. A tensão é palpável em cada página, no medo de uma batida policial, nos diálogos cifrados e na paranoia que pairava no ar.

Ler este romance é entender o clima de uma época. É sentir na pele o que significava ser jovem e ter sonhos em um país onde sonhar era um ato de subversão.

(Aqui você insere a terceira imagem gerada pela IA)




Por que Ler "As Meninas" Hoje?


Embora seja um retrato fiel dos anos 70, "As Meninas" transcende seu tempo. As questões levantadas por Lygia sobre o papel da mulher, as abissais diferenças sociais, a alienação e a coragem de lutar por aquilo em que se acredita continuam assustadoramente atuais.

É uma leitura essencial para quem quer entender o Brasil, mas também para quem busca uma literatura que desafia, que incomoda e que, acima de tudo, humaniza. Uma obra-prima que reafirma Lygia Fagundes Telles como uma das vozes mais potentes e indispensáveis da nossa literatura.



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