Escrita Criativa: O Guia para Deixar de Ser Chato e Começar a Contar Histórias de Verdade
- Ana Amélia

- 22 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de ago.

Escrever Melhor: Mostre, Não Conte: O Guia Definitivo para Contar Histórias Melhores
Olá, pessoal. Aqui é a Ana Amélia.
Muitos de vocês pediram, então, como sou uma alma caridosa, resolvi abrir a minha caixinha de ferramentas. Sabe, aquela que a gente usa para transformar um amontoado de palavras numa história que presta. Peguem um café, sentem aí e vamos ao que interessa. Nosso primeiro papo é sobre o básico, o "arroz com feijão" da coisa toda: a tal da Escrita Criativa.
Apertem os cintos.
O que (diabos) é a Escrita Criativa?
É a técnica que transforma uma descrição de paisagem numa experiência sensorial. É a habilidade de usar a linguagem não apenas para informar, mas para provocar, emocionar, intrigar e, quem sabe, até mudar a perspectiva de alguém.
Em suma, é escrever com intenção, voz e um pingo de ousadia. É parar de apenas dizer as coisas e começar a mostrá-las.
Ok, sou criativo. E agora? Como isso paga meus boletos?
Ah, a pergunta de um milhão de dólares. Você acha que essa "criatividade" toda só serve para escrever aquele romance que está há anos na gaveta? Que engano. A escrita criativa é uma arma secreta para a vida.
Exemplos práticos de onde a mágica acontece:
No trabalho: Aquele seu e-mail pedindo um aumento. Em vez de um seco "Prezado, solicito reajuste", você constrói um argumento, conta uma pequena história sobre seus resultados, mostra seu valor. As chances de ser lido (e atendido) aumentam exponencialmente.
Nas redes sociais: Quer engajamento de verdade? Pare de postar legendas genéricas. Conte o perrengue por trás da foto bonita. Use uma metáfora inesperada. Transforme um post sobre seu almoço num microconto. As pessoas se conectam com histórias, não com fatos.
Na vida pessoal: Sabe aquela mensagem de aniversário? Em vez do "parabéns, tudo de bom", que tal uma pequena anedota que só você e a pessoa conhecem? Isso cria conexão. Isso é memória. Isso é usar a escrita para fortalecer laços.
A escrita criativa te ensina a organizar o pensamento de forma mais interessante e persuasiva. E, convenhamos, ser interessante e persuasivo nunca é demais.
As Ferramentas do Ofício: As Técnicas que separam os Amadores dos... (quase) Profissionais
Existem dezenas de técnicas, mas vamos começar pelo começo. Se você só pudesse aprender uma única coisa hoje, que fosse esta: Mostrar, não Contar (Show, Don't Tell).
É o mandamento número um. "Contar" é preguiçoso. É dizer: "A personagem estava triste". O leitor boceja, aceita a informação e segue em frente.
"Mostrar" é criar a cena. É descrever o ombro caído, o olhar fixo no nada, a xícara de café esquecida na mesa, o jeito como a lágrima solitária desenha um caminho na poeira do rosto. É fazer o leitor sentir a tristeza junto com a personagem.
A Prova do Crime: 'Mostrar, não Contar' com a Benção de Clarice Lispector
Agora, para provar que não estou inventando moda, vamos ver como uma mestre faz. Peguei esse trecho do conto "Amor", da Clarice Lispector. Nele, a protagonista Ana, uma dona de casa com a vida toda arrumadinha, tem uma espécie de epifania no Jardim Botânico após ver um cego mascando chicletes.
Clarice poderia ter "contado": "Ana viu o cego e de repente percebeu que sua vida era superficial e sentiu-se mal com a crueza do mundo."
Mas ela não fez isso. Ela "mostrou". Veja:
"O cego mascava chicles. Um homem cego mascava chicles. Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo: o mal que se faz a uma pessoa é como um erro de cálculo, repercutindo nos algarismos desinteressados. [...] Mas o mal estava feito. A piedade a sufocava, Ana amava o cego, com uma piedade que era o que de mais violento ela conhecera. [...] Inclinada, ela olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada, o rosto suspenso no rosto do cego."
Trecho de "Amor", do livro Laços de Família, de Clarice Lispector
Dissecando o cadáver (com todo o respeito, Clarice):
O Detalhe Concreto: A cena toda nasce de uma imagem poderosa e banal: "O cego mascava chicles". Não é a cegueira em si, mas o ato de mascar chicletes na escuridão que quebra a realidade de Ana. É o detalhe inesperado que ancora a crise existencial.
A Emoção em Ação: Clarice não diz "Ana sentiu uma piedade avassaladora". Ela diz que a piedade "a sufocava" e que era "o que de mais violento ela conhecera". A emoção se torna uma força física, quase uma agressão.
Contraste e Ambiguidade: O movimento da mastigação que parece um sorriso e deixa de ser. A mulher que parece ter ódio, mas está tomada de piedade. Clarice não entrega uma emoção pura, ela nos mostra o caos de sentimentos contraditórios que borbulham dentro de Ana. É isso que nos faz sentir o desconforto dela.
Ação em vez de Adjetivo: Em vez de chamar Ana de "chocada" ou "perturbada", ela a descreve "cada vez mais inclinada, o rosto suspenso no rosto do cego". A postura física dela revela seu estado mental.
Viram só? É isso. É usar o mundo concreto — o chiclete, a mastigação, a inclinação do corpo — para revelar o universo invisível da alma.
Comecem a praticar. Da próxima vez que forem escrever qualquer coisa, parem e se perguntem: "Eu estou contando ou estou mostrando?". A resposta pode ser o primeiro passo para transformar a escrita de vocês para sempre.
Até a próxima. E tratem de escrever alguma coisa.
Com aquele pingo de sarcasmo de sempre,
Ana Amélia.


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